ARTIGO: Empresários na ofensiva

Desde meados do segundo governo Dilma, ao perceber fragilidades em seu governo, setores do empresariado adotaram uma postura mais ativa e agressiva. Está clara a decisão desses capitalistas de consolidar seu protagonismo e impor sua pauta à agenda política nacional.

Essa movimentação empresarial não tem uma forma única ou um só conteúdo, embora haja convergência de discursos. A ação empresarial vai desde a defesa de interesses setoriais – como o setor de máquinas, passa por iniciativas politiqueiras, como as de Paulo Skaf, na Fiesp, até movimentos mais orgânicos, a exemplo do Agora, o RenovarBR e do Brasil 200, inspirado no bicentenário da Independência, no ano 2022.

Todo movimento tem expoentes. No RenovarBR, entre outros, pontifica Abílio Diniz. Seu grupo oferta R$ 5 mil mensais ao candidato aprovado segundo os cânones liberais do Renovar. Também há o Agora, onde atua o midiático Luciano Huck, entre outros – esse grupo aceita o casamento aberto, digamos, uma vez que não indica partidos a seus adeptos. Pode ser o PPS, a Rede etc.

Mais agressivo, porém, tem sido o Movimento Brasil 200, cuja estrela é o ex-deputado Flávio Rocha (PFL, PL e PRN – 1987 a 1995), dono da rede Riachuelo. Ativo na boca de cena e também nas coxias, ele é uma espécie de ama-seca do tucano Rogério Marinho, relator do projeto que gerou a nova lei trabalhista. Rocha, agora afagado por Fernando Henrique, dirige um império empresarial do qual faz parte a financeira Midway. Nesta, caso você tome emprestado R$ 500,00, em doze parcelas, pagará ao final R$ 1.310,16. Ou seja, 130% de juros em um ano (tabela no próprio site).

Quarta (21), Rocha ganhou destaque de página quase inteira no jornal o “Estado de S. Paulo”. “O mercado quer um candidato de direita, não de centro”, diz a manchete. Na matéria, ele elogia Bolsonaro: “Merece o mérito de ser o único candidato que toca nos temas tabus”. Mais: “Fala temas que têm o apoio de 80% do eleitorado”.

Os partidos populares, os movimentos sociais e especialmente o sindicalismo precisam prestar mais atenção nessa articulação empresarial, mapear os movimentos, identificar suas lideranças e ter em conta as suas bandeiras. Está claro que o centro do pensamento dessa direita é mercado contra Estado. Portanto, contra a regularização do próprio trabalho, das leis trabalhistas e de proteção social.

No que diz respeito específico ao sindicalismo, cabe listar quem é quem nesse grupamento empresarial, que histórico trabalhista têm essas empresas e empresários e, no que couber, apontar seus erros, seus abusos, suas contradições e, quem sabe, seus calotes.

Com a outra mão, o sindicalismo precisa identificar candidatos do campo popular, sistematizar nomes, partidos, cargos que disputam, bandeiras etc., a fim de também repassar a esses aliados as nossas demandas e pautas – bem como orientar sobre exigências legais e práticas das campanhas. Se não, o empresariado avançará em nosso campo, ganhará votos na massa trabalhadora e, depois, no poder, passará com o trator neoliberal em cima da gente.

João Franzin é jornalista e diretor
da Agência de Comunicação Sindical.
E-mail: franzin@agenciasindical.com.br

Deixe seu comentário