Ao completar dois anos no poder, Michel Temer (MDB) mostra como principal legado o aumento do desemprego. Nem a mídia aliada consegue mais ocultar os números crescentes e preocupantes.
Domingo (20), “O Estado de S. Paulo” publicou na primeira página: “Desemprego entre jovens chega a 28%” – o índice, embasado em pesquisa do IBGE, abrange jovens de 18 a 24 anos. Situação ainda pior o Dieese registra na Grande São Paulo, onde 37,4% desses jovens estavam sem emprego em março.
“O Globo” de domingo, na página 2, traz artigo de Bernardo Mello Franco, com o título “O IBGE desmentiu o presidente” (leia abaixo). O texto claro e direto – “na quinta-feira, o IBGE mostrava que a conversa do presidente era fiada” – informa que, desde a posse de Temer, o número de desalentados (pessoas sem esperança de obter recolocação) cresceu 64%. Com Temer, o salto no desemprego bate em 23%.
Pesquisas apontam que, em São Paulo, 37,4% dos jovens de 18 a 24 anos estão desempregados
Metalúrgicos – Na semana passada, a Agência Sindical havia publicado reportagem sobre a queda no emprego metalúrgico, com base em informações do economista Rodolfo Viana, do Dieese. Ele responde pela subsecção do órgão nos Metalúrgicos de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Ele informava que, em 2013, o Brasil contava 2 milhões 446 mil metalúrgicos empregados. No ano passado, o número estava em 1,8 milhão – queda de 23,4%. “E os salários também pioraram bastante”, afirmava Rodolfo Viana. Em Guarulhos, os dados do Caged registraram, em 2010, um total de 58.204 vagas com Carteira assinada. Nas quatro cidades da base do Sindicato, informou o economista, caiu em 33% o número de empregos no setor.
Sequelas – Além da queda brutal nos empregos, os trabalhadores também sofrem com arrocho e corte em benefícios, que representam salário indireto, como a PLR – Participação nos Lucros e/ou Resultados. A fim de economizar, muitas empresas cortaram planos de saúde ou aumentaram a parcela dos empregados.
Universidades – Ainda no domingo, sobre o tema juventude e crise, a manchete do Caderno de Economia do Estadão (página B4) dizia: “Crise tirou 170 mil jovens da faculdade”. A linha fina, embaixo da manchete, não podia ser mais clara ao dizer que a debandada se deve ao aumento no desemprego, falta de crédito e queda na renda. A faixa etária abordada na reportagem vai de 19 a 25 anos.
O IBGE desmentiu o presidente
Bernardo Mello Franco
Há duas semanas, Michel Temer sustentou que a alta no desemprego seria uma notícia… positiva. “É um dado positivo que revela esse suposto desemprego”, disse o presidente à CBN. “Quando a economia melhora, as pessoas que estavam desalentadas e não procuravam emprego começam a procurar emprego”, prosseguiu.
“Como não há emprego para todos, isso eu reconheço, ele não consegue o emprego”, continuou Temer. “Ele entra, ou reentra, na área dos desempregados. Mas é interessante, eu volto a dizer. É um fato positivo”, assegurou.
“Mas é um positivo entre aspas, não é, presidente?”, questionou o âncora Roberto Nonato, numa tentativa de trazer o entrevistado ao mundo real. “Não, é fora das aspas”, ele respondeu.
Na quinta-feira (17), o IBGE mostrou que a conversa do presidente era fiada. O instituto informou que o número de desalentados está longe de diminuir. Ao contrário: aumentou para 4,6 milhões, o maior de toda a série histórica. A categoria reúne os brasileiros que, abatidos pela crise, desistiram de procurar trabalho.
No primeiro trimestre de 2016, às vésperas do impeachment, o País contava 2,8 milhões de desalentados. Isso significa que o exército de pessoas sem esperança de se realocar cresceu 64% desde que Temer vestiu a faixa. O número de desempregados também subiu neste período: de 11,1 milhões para 13,7 milhões. Um salto de 23% em dois anos de governo.
A subutilização da força de trabalho também atingiu nível recorde. O índice acaba de bater em 24,7%, o maior desde o início da PNAD Contínua, em 2012. Hoje falta trabalho para 27,7 milhões de brasileiros, somando desempregados, subocupados e desalentados.
Entre os fatos e a propaganda, Temer continua a escolher a propaganda. No dia 4, em palestra numa faculdade de São Paulo, ele disse que o número de desempregados estaria “começando a cair”. Era mentira, porque o índice só cresceu nos últimos três trimestres.
“Quando nós assumimos, estava em torno de 14 milhões e meio de desempregados”, acrescentou o presidente, em outra aventura pelo terreno da ficção. Superfaturou a conta em 3,4 milhões de pessoas, o equivalente a duas vezes a população do Recife.
via AGÊNCIA SINDICAL