Audiência pública na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), na tarde desta quarta-feira (29), debateu a violência contra os frentistas da cidade. O evento foi organizado pelos vereadores Angelo Vanhoni (PT) e Rodrigo Reis (União) após as imagens de ofensas racistas e xenofóbicas contra Juan de Castro, um jovem de 18 anos, funcionário de um posto de combustível, rodarem o país, em outubro. Com um pedido de ajuda da categoria por “políticas públicas de segurança”, a discussão também tratou da agressão física e do assédio moral contra frentistas.
Presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo e Lojas de Conveniências em Postos de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (Sinpospetro), o frentista Lairson Sena Sousa explicou que o objetivo do debate é ajudar a criar políticas públicas para garantir segurança aos trabalhadores. “O posto de gasolina, ele atende a toda a sociedade. E nós somos essa seguridade da população. O frentista, ele traz informação, ele atende a população, a mãe de família, o pai de família. [Se] o carro quebra, a primeira coisa é empurrar o carro para dentro do posto de gasolina”, citou.
“O que o Sinpospetro pede, toda a diretoria, os trabalhadores e as trabalhadoras, é que a Câmara de Vereadores crie políticas públicas que visem trazer segurança a esses trabalhadores. Trazendo segurança aos trabalhadores, também traz à sociedade, porque […] ali tem a mãe de família que está abastecendo, tem o advogado que está tomando um cafezinho na loja de conveniência para ir fazer a audiência”, lembrou Sousa. “Porque o racismo e a xenofobia são ensinados. Nós nascemos isentos de preconceito. E a gente tem que combater esses maus-caracteres que tratam mal as pessoas.”
A audiência pública exibiu o vídeo das ofensas racistas e xenofóbicas contra Juan de Castro no posto de combustível em que ele trabalha, no bairro Boqueirão, caso já repudiado pelos vereadores. Também foram transmitidas as imagens da violência física contra a frentista Guadalupe Monithle Bahs de Morais, de 26 anos. No fim de outubro, a mulher, funcionária de um posto de combustível de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), foi agredida por um cliente com um tapa no rosto.
“A gente está ali de peito aberto”, diz frentista agredida
Guadalupe participou da audiência pública e falou sobre o caso. A frentista contou que, antes da violência física, foi agredida verbalmente pelo homem. Ele teria feito ameaças como “independente se ela é mulher ou não, ela tem que apanhar mesmo” e “você não conhece quem você está mexendo, você não conhece”. “E, como estavam em quatro homens, como que vai fazer? Uma mulher, mais um frentista [colega de trabalho], mais quatro homens, a gente não tinha o que fazer. […] Hoje em dia você pode parecer uma pessoa boa, mas está com uma arma, está com um revólver, a gente está ali de peito aberto”, ponderou sobre a insegurança da profissão.
Assim como Castro, Guadalupe registrou o boletim de ocorrência. “A Guadalupe deu um exemplo que nós temos que fazer, nós temos que enfrentar o machismo que impera no nosso país”, elogiou a secretária da Mulher da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro), Telma Cardia. “Nós, trabalhadores e trabalhadoras frentistas, damos informação de onde tem um hotel, onde tem rua etc. Por que não fazer um projeto para que nós possamos ser agente cultural?”, sugeriu.
Angelo Vanhoni adiantou que ele, Rodrigo Reis, entidades que representam os frentistas e advogados estão discutindo um projeto de lei que possa trazer mais segurança para os funcionários dos postos de combustíveis de Curitiba. “O ser humano, ele nasce isento de preconceito, o ser humano, quando nasce, ele nasce puro. O racismo, a xenofobia, são atos ensinados. E é isso que a gente tem que combater no nosso dia a dia, porque nenhum ser humano nasce com maldade no coração”, declarou.
Para ele, a violência, hoje, “não é uma situação só do Brasil, de Curitiba, mas está no mundo inteiro”. “É só a prevenção que pode fazer o mundo diferente, […] estamos aqui para a gente dialogar e achar políticas públicas que venham trazer mais segurança a toda a sociedade e aos trabalhadores em postos de gasolina”, complementou o vereador.
Reis também condenou as agressões contra os frentistas. “É um trabalhador que fica exposto, porque ele fica num lugar aberto, que qualquer pessoa pode chegar, a qualquer momento. Nós vimos o caso agora da Guadalupe aqui, um caso absurdo, de uma agressão física a uma mulher em seu ambiente de trabalho”, disse Reis. “Seja agressão física, seja agressão moral, seja racismo, nós não podemos mais ficar quietos. E as pessoas não têm ficado quietas. Qualquer pessoa, […] pode ser uma pessoa fora do ambiente de trabalho, que sofra qualquer tipo de agressão física ou moral, tem a obrigação de expor essa questão e tem a obrigação de ter apoio do poder público”, destacou.
A ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), Karollyne Nascimento, colocou o órgão à disposição dos frentistas, “independentemente de o sindicato atender vocês”. “Nós temos o Paraná como o terceiro estado com o maior número de ocorrências por injúria racial. Em 2022, nesses dez primeiros meses, 68% foi o aumento de casos de racismos aqui no Paraná, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública”, alertou. Primeira trans eleita para o cargo, em todo o país, Karollyne contou que também “vivencia e experiencia, a todo momento, o preconceito”.
A audiência pública contou, ainda, com a participação da superintendente regional do Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR), Regina Cruz; do presidente e do vice da Fenepospetro, respectivamente Eusébio Pinto Neto e Francisco Soares de Souza; do presidente da Federação dos Frentistas de São Paulo (Fepospetro), Luiz de Souza Arraes; da secretária da Mulher da União-Geral dos Trabalhadores do Paraná (UGT Paraná), Maria Donizete Soares; do presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT Paraná), Márcio Kieller; da secretária de Assuntos Municipais da APP Sindicato, Marcia Aparecida de Oliveira Neves; da coordenadora nacional de Política pela Rede Nacional de Mulheres Negras, Andréia de Lima; e dos advogados Daniel Kukla, Nádia Regina de Carvalho e Sandro Lunardi.
Via Câmara Municipal de Curitiba
Imagem: Rodrigo Fonseca – CMC