Exceto por artigo de João Guilherme Vargas Neto, por publicações da Agência Sindical, do Portal Vermelho e de alguns outros sites, passou quase despercebido o Plano de Governo de Jair Bolsonaro no tocante ao mundo do trabalho – “Modernização da legislação trabalhista” é o nome.
Para um Plano com 4.583 palavras, Bolsonaro destina 113 aos trabalhadores. O conteúdo é radicalmente neoliberal, ao atentar contra o contrato mediado pelas garantias da Convenção Coletiva, ao criar uma Carteira para os contratados de forma precária e ao garantir permissão legal para que o trabalhador escolha o seu Sindicato, o que solapa o conceito de categoria profissional, que é uma das mais valiosas conquistas do sindicalismo brasileiro.
O Plano inteiro – em PDF – preenche 81 páginas. O conteúdo referente aos trabalhadores está na página 64. A íntegra:
“Criaremos uma nova Carteira de Trabalho verde e amarela, voluntária, para novos trabalhadores.
Assim, todo jovem que ingresse no mercado de trabalho poderá escolher entre um vínculo empregatício baseado na carteira de trabalho tradicional (azul) – mantendo o ordenamento jurídico atual, ou uma Carteira verde e amarela (onde o contrato individual prevalece sobre a CLT, mantendo todos os direitos constitucionais).
Além disso, propomos a permissão legal para a escolha entre sindicatos, viabilizando uma saudável competição que, em última instância, beneficia o trabalhador.
O Sindicato precisa convencer o trabalhador a voluntariamente se filiar, através de bons serviços prestados à categoria.
Somos contra o retorno do imposto sindical”.
Lixo tóxico – O professor Celso Napolitano, presidente do Diap e da Federação dos Professores de São Paulo, aponta que as propostas desnudam o viés fascista do candidato. “Ele quer criar trabalhadores de segunda classe, com a tal carteira de trabalho verde amarela, que nada mais é do que a volta à escravidão. Esse plano tem que ser jogado no lixo. Mas em depósito de lixo tóxico”, diz.
Vargas – Em artigo publicado aqui no mês passado, quando saiu a primeira versão do programa, por conta do registro das candidaturas no TSE, o consultor João Guilherme Vargas Netto fez duras críticas. Ele destacou que as propostas mereciam “repulsa” por serem “um ultraje à história de resistência e de organização dos trabalhadores”.
“Reativando antigas propostas neoliberais e agravando ainda mais os efeitos danosos da lei trabalhista celerada, compactuam com uma maior desorganização sindical e agridem de maneira letal a própria Constituição”, diz o texto.