Conscientização e educação são essenciais no combate à violência contra as mulheres

O primeiro dia do III Seminário Nacional das Dirigentes Sindicais dos Empregados

em Postos de Combustíveis foi marcado pela emoção. Os sindicalistas destacaram

a luta das mulheres pela igualdade de direitos e o aumento da participação feminina

no movimento sindical.

Do Norte ao Sul do país, as trabalhadoras de postos de combustíveis e lojas de

conveniência estão unidas. A presença de diretoras de vários sindicatos da categoria na

abertura do III Seminário Nacional das Dirigentes Sindicais dos Empregados em Postos

de Combustíveis, na noite de ontem (7), mostrou a determinação das mulheres em

abraçar a luta do movimento sindical. O evento que terá continuidade nesta quarta-

feira(8), Dia Internacional da Mulher, acontece na sede da Confederação Nacional dos

Trabalhadores no Comércio, em Brasília.

O assassinato da frentista Aline Cristina das Neves, no mês passado, em Jundiaí, São

Paulo, foi repudiado pela secretária da mulher da Federação Nacional dos Frentistas

(FENEPOSPETRO), Telma Cardia. Ao falar do crime, Telma se emocionou e disse ser

repugnante um homem passar com o carro em cima do corpo da mulher cinco vezes .

A secretária da mulher da Federação citou que as mulheres sofrem violência todos os

dias. As mulheres estudam muito e ganham menos, trabalham mais e têm os seus

direitos cortados. Para ela, é preciso lutar para banir da sociedade o machismo, que

subjuga a mulher.

Telma Cardia cobrou das trabalhadoras de postos de combustíveis uma participação

efetiva no movimento sindical. Ela citou como exemplo, o movimento das mulheres dos

policiais no Estado do Espírito Santo que bloquearam os quartéis para exigir aumento

salarial para os maridos. “Se pudéssemos ter consciência do quanto nossa vida é

passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades de ser

e de fazer outra pessoa feliz”.

A secretária da mulher da Federação dos Frentistas do Estado de São Paulo (

FEPOSPETRO), Sueli Camargo, expôs que a relação das funcionárias do posto com o

benzeno é muito complicada, já que são obrigadas a manusear produtos tóxicos e

inflamáveis, inclusive quando estão grávidas. Ela também cobrou das mulheres mais

empenho e participação no movimento sindical e pediu que as diretoras dos sindicatos

levem adiante todo o aprendizado do seminário. Sueli Camargo cobrou das dirigentes

comprometimento na luta contra a reforma da previdência, que será prejudicial,

principalmente, para a mulher. “Precisamos nos esforçar para mudar o mundo dando o

nosso melhor. O empoderamento acontece quando somos líderes de nós mesmas”.

VIOLÊNCIA

A gente é o que a gente quer ser. Ao falar da sua trajetória de luta para vencer o

preconceito na profissão, a desembargadora Maria Berenice Dias, primeira mulher juíza

no Estado do Rio Grande do Sul, disse que encontrou dificuldades para entrar na

magistratura. A desembargadora criticou a educação machista que tenta moldar a mulher

e transformá-la numa boneca. Ela chamou a atenção para a influência negativa dessa

cultura na sociedade.

_A mulher não é um objeto, não é uma boneca, não pode ser tratada como posse. Esse

entendimento abre espaço para a agressão, a violência psicológica e os maus tratos.

Segundo ela, por causa da educação machista recebida da própria mãe, a mulher se

sente culpada e acha normal quando é vítima de violência.

_Nós precisamos qualificar os profissionais que atendem as mulheres nas delegacias e

na justiça.

A magistrada revelou que ao contrário do que se pensa, a violência contra mulher não

diminuiu. A conscientização faz com as mulheres, hoje, tenham coragem para denunciar

os casos de agressão, por isso a cada dia as estatísticas aumentam.

ABERTURA

Ao abrir o seminário das trabalhadoras de postos de combustíveis, o presidente da

FENEPOSPETRO, Eusébio Pinto Neto, disse que a realização do evento emociona e

enche a categoria de orgulho, já que na época da fundação do primeiro Sindicato dos

Frentistas, na década de 90, não havia mulheres trabalhando em postos de combustíveis.

Ele frisou que as mulheres são expressivas na categoria e representam hoje quase 30%

do número de trabalhadores em postos de combustíveis em todo o país.

O presidente da Federação também destacou a luta da mulher para conquistar direitos

que culminou com a criação do Dia Internacional da Mulher. “Nós temos que reconhecer

que a mulher é corajosa na sua própria essência, por isso temos, cada vez mais, não só

nas palavras, mas também com atitude, procurar respeitar e tratar a mulher no ambiente

de trabalho como cidadã”. Ao fim do discurso Eusébio Neto parabenizou as mulheres pela

força e pela luta.

Para o secretário-geral da CNTC, Lourival Figueiredo de Melo, os sindicalistas homens

não podem ficar inertes a violência contra a mulher. A cada minuto uma mulher é

agredida, ofendida, sofre assédio sexual e todo o tipo de violência. Segundo ele, essa

violência só vai acabar quando os homens tiverem consciência do cumprimento da

Constituição Federal, que deixa claro que todos são iguais. Ele pediu que os homens se

unam na defesa do respeito às mulheres. “Muitos homens fazem discursos em defesa

das mulheres, mas depois tripudiam da luta feminina. Lutar pelas mulheres é ter

compromisso”, completou. Lourival de Melo, se emocionou ao final da sua fala ao lembrar

da mãe.

O presidente da FEPOSPETRO, Luiz Arraes, parabenizou a direção da CNTC por

avançar na causa da luta feminina ao criar uma secretaria da mulher, 70 anos depois da

sua fundação. Para ele, a mudança passa pela educação.

“O homem foi educado para mandar e agora também vai ter que quebrar paradigmas.

Precisamos ensinar aos nossos filhos e netos que a questão da violência doméstica

começa com o irmão e a irmã. O homem precisa respeitar para ser respeitado”,

completou Arraes.

FORÇA

O primeiro I Seminário das dirigentes frentistas, realizado, em São Paulo, em 2015,

contou com a presença de 15 mulheres. O trabalho de conscientização realizado pela

secretaria da mulher da FENEPOSPETRO mudou essa realidade. Hoje, quatro Sindicatos

dos Frentistas no país são presididos por mulheres, o número de diretoras nas entidades

também aumentou. O seminário derrubou o conservadorismo e aproximou a mulher do

movimento sindical.

* Estefania de Castro, assessoria de imprensa FENEPOSPETRO

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